domingo, 11 de março de 2012

LER EM TODO O LADO


 ESCUTA, PÁRA E LÊ...!!!


Foi o que aconteceu na Semana da Leitura 2012... Escutámos, parámos e lemos textos de escritores de língua portugueses , em todos os lugares.
Alguns dos mais lidos falam-nos de livros, de bibliotecas, de bibliotecários e fazem-nos sorrir.


O senhor Juarroz gostava de organizar a sua biblioteca de maneira secreta. Ninguém gosta de revelar segredos íntimos.
O senhor Juarroz primeiro organizara a biblioteca por ordem alfabética do título de cada livro. Rapidamente, Porém, foi descoberto.
O senhor Juarroz organizou depois a sua biblioteca por ordem alfabética, mas tendo em conta a primeira palavra de cada livro.
Foi mais difícil, mas ao fim de algum tempo alguém disse: já sei!
A seguir o senhor Juarroz reordenou a biblioteca, mas agora por ordem alfabética da milésima palavra de cada livro.
Há no mundo pessoas muito perseverantes, e uma delas, depois de muito investigar, disse: já sei!
No dia seguinte, assumindo este jogo como decisivo, o senhor Juarroz decidiu arrumar a biblioteca a partir de uma progressão matemática complexa que envolvia a ordem alfabética de uma determinada palavra e o teorema de Godel.
Assim, para estranheza de muitos, a biblioteca do senhor Juarroz começou a ser visitada, não por entusiastas da leitura, mas por matemáticos. Alguns passaram tardes a abrir os livros e a ler certas palavras, utilizando o computador para longos cálculos, tentando assim encontrar a todo o custo a equação matemática capaz de desvendar a organização da biblioteca do senhor Juarroz. Era, no fundo, um trabalho de descoberta da lógica de uma série, semelhante a 2 1 9 1 30 1 93
Pois bem, passaram dois, três, quatro meses, mas chegou o dia. Um reputado matemático, completamente vermelho e eufórico, segurando, na mão direita, um bloco gigante coberto de números, disse: Já sei! E apresentou depois a fórmula da série que baseava a organização da biblioteca.
O senhor Juarroz ficou desanimado e decidiu desistir do jogo. Basta!
No dia seguinte pediu à sua esposa para organizar a biblioteca como bem entendesse. Por ele estava farto.
Assim foi. Nunca mais ninguém descobriu a lógica da organização da biblioteca do senhor Juarroz.
Gonçalo M. Tavares in O Senhor Juarroz



Comecei a gostar de ir à Biblioteca e descobri que os livros me divertiam, faziam sonhar, punham a minha imaginação a funcionar. Ri-me com as asneiras de João Pateta, voei com o Peter Pan, vi crescer o nariz do Pinóquio quando mentia. Dancei com a Gata Borralheira até à meia-noite, na noite em que ela perdeu o sapatinho, mas foi pela Bela Adormecida que estive apaixonado.
Chorei ao lado dos sete anões, quando a Branca de Neve foi envenenada, fiquei muito triste com a morte do Soldadinho de Chumbo e da Bailarina.
Era muito valente, aliás fui eu quem matou o lobo mau que queria comer o Capuchinho Vermelho e também ajudei o engenhoso cavaleiro D. Quixote de La Mancha a lutar contra os moinhos de vento.
Desse tempo conservo ainda alguns amigos que sempre me têm acompanhado: o rezingão do Pato Donald, o valente repórter Tintin e o irascível Astérix, que me ajuda sempre que estou em apuros.
Cresci.
Fui um herói de quinze anos. Passei dois anos de férias numa ilha misteriosa, mas para lá chegar percorri vinte mil léguas submarinas.

Dei a volta ao mundo em 80 dias. Fiz uma viagem ao centro da Terra e depois fui à Lua, andando cinco semanas em balão.
Acompanhei Lagardère, combati ao lado dos três mosqueteiros, fugi da ilha If com o Conde de Monte Cristo, naveguei no mar das Caraíbas com o Corsário Negro.

Naufraguei com Robinson Crusoé, cavalguei no Far West ao lado de Búfalo Bill, ajudei Sherlock Holmes a decifrar um crime misterioso.
Assim sonhei, assim vivi outras vidas, outras aventuras ao lado destas personagens maravilhosas que, para sempre, ficaram nos esconderijos da minha memória.
O tempo foi passando, continuei a crescer...
Comecei a precisar de ir à Biblioteca para estudar ou para aprender mais.
Lembro-me que uma vez o meu professor de História me mandou fazer um trabalho sobre a cidade romana que tinha estado na origem daquela em que eu habitava.
O professor não me deu qualquer orientação, mas na Biblioteca ajudaram-me: deram-me para ler alguns livros sobre a história da cidade e sobre as descobertas arqueológicas que ao longo dos séculos lá se tinham feito.
A Biblioteca é um lugar de encontros e desencontros, os livros aproximam as pessoas e podem mesmo ajudar a combater a solidão.

Henrique Barreto Nunes






Sem comentários:

Enviar um comentário